terça-feira, 4 de novembro de 2008

MEU NOME É ÉBANO



Ele tinha fala mansa de mineiro, olhar de tigre adestrado.Doce como aquele cafezinho que se toma sem o sabor amargo da derrota. Sutil, suave. As garras nunca expostas; se contrariado, transformava-se no preto velho da senzala e, por algumas vezes esteve no pelourinho. Mas não fazia mal, o que lhe alegrava os olhos eram os filhotes e a bela fêmea que o esperava, a rainha de seu lar. Bailarino como poucos, trocou a dança boêmia por um grande amor. Um ébano de estirpe.

UM HOMEM ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA



Não sei se terei oportunidade de conhecer outro Homem como ele. Sei que não perdi a chance de conhecê-lo.No início, apenas nos cumprimentávamos no café.Entretanto, o nosso hábito rotineiro de ir ao mesmo café todos os dias, fez com que passássemos do cordial "bom dia" para simples conversas do cotidiano. Esse lento aproximar-se tornou-nos, após alguns anos, amigos. Uma amizade real e sólida. Aprendi a admirá-lo por sua simplicidade sábia de encarar a vida. Depositei, pouco a pouco, confiança nas sua palavras que surgiam na hora certa para mim. Nunca me aconselhou, sempre fez mais do que isso: Com seu olhar inteligentemente certeiro, desvendava para mim a realidade que eu tateava às cegas e levaria anos para chegar aonde ele me fazia chegar em minutos.Agradeço à vida por ter-me apresentado um homem de personalidade sutil e de coração, como dizia Drummond, " maior que o mundo". Ele nunca me deu a mão, fez-me caminhar sozinha.Entre tantos homens que conhecemos, felizmente sempre surge um Homem que nos faz crescer e aprender a olhar a vida com mais acuidade.Um dia, não mais o verei, o ritmo da vida afasta fisicamente as pessoas. Isso não me entristece porque, como diz Adélia Prado, " o que a memória ama. fica eterno".

domingo, 14 de setembro de 2008

NARCISO


NARCISO
Nome mais apropriado ele não poderia ter. Crescera observando a mãe a cozinhar. Curioso, perguntava o nome de cada tempero e para que servia. Foi pegando gosto pela magia de transformar carnes e legumes em pratos saborosos à visão e ao paladar. Ainda jovem já se aventurava no preparo dos alimentos, tornando-os manjares dos deuses. Todos apreciavam os pratos de Narciso. Com o tempo, Narciso tornou-se um mestre da gastronomia.Observar as pessoas saboreando seus pratos, era motivo de orgulho porque sempre recebia elogios. Sabia até que reação provocar nas pessoas com determinados temperos. Assitiu "Como água para chocolate" mais de seis vezes e sentia até uma ponta de inveja daquela mulher que transformava alimentos em sentimentos. Sem falar que "A festa de Babette" era seu filme predileto. Mas eram mulheres. Ele, Narciso, era o homem que provocava as sensações com seus pratos internacionais.
Você, que me lê, talvez me pergunte qual o sentido da primeira frase desta história. É que esse grande mestre da cozinha espelhava-se em seus pratos e jamais saberia viver sem que devorassem a sua própria imagem.