terça-feira, 4 de novembro de 2008

MEU NOME É ÉBANO



Ele tinha fala mansa de mineiro, olhar de tigre adestrado.Doce como aquele cafezinho que se toma sem o sabor amargo da derrota. Sutil, suave. As garras nunca expostas; se contrariado, transformava-se no preto velho da senzala e, por algumas vezes esteve no pelourinho. Mas não fazia mal, o que lhe alegrava os olhos eram os filhotes e a bela fêmea que o esperava, a rainha de seu lar. Bailarino como poucos, trocou a dança boêmia por um grande amor. Um ébano de estirpe.

UM HOMEM ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA



Não sei se terei oportunidade de conhecer outro Homem como ele. Sei que não perdi a chance de conhecê-lo.No início, apenas nos cumprimentávamos no café.Entretanto, o nosso hábito rotineiro de ir ao mesmo café todos os dias, fez com que passássemos do cordial "bom dia" para simples conversas do cotidiano. Esse lento aproximar-se tornou-nos, após alguns anos, amigos. Uma amizade real e sólida. Aprendi a admirá-lo por sua simplicidade sábia de encarar a vida. Depositei, pouco a pouco, confiança nas sua palavras que surgiam na hora certa para mim. Nunca me aconselhou, sempre fez mais do que isso: Com seu olhar inteligentemente certeiro, desvendava para mim a realidade que eu tateava às cegas e levaria anos para chegar aonde ele me fazia chegar em minutos.Agradeço à vida por ter-me apresentado um homem de personalidade sutil e de coração, como dizia Drummond, " maior que o mundo". Ele nunca me deu a mão, fez-me caminhar sozinha.Entre tantos homens que conhecemos, felizmente sempre surge um Homem que nos faz crescer e aprender a olhar a vida com mais acuidade.Um dia, não mais o verei, o ritmo da vida afasta fisicamente as pessoas. Isso não me entristece porque, como diz Adélia Prado, " o que a memória ama. fica eterno".