domingo, 1 de novembro de 2009

V ( DONA MARIA)

Quero nestas folhas
Muito documentar
Agora, que ainda respiro,
Agora, que ainda vivo,
O que é meu posso doar.

Meus olhos para o cego
Para que possa enxergar
Que meu coração em outro peito
Continue a palpitar.

Que aproveitem de meu corpo
Tudo que possam aproveitar.
Mas, em troca, um favor
Quero implorar

Eu amo a vida
E quero muito viver.
Mas como não sou imortal
Um dia vou morrer.

Quando esse dia chegar
A minha vontade
Devem respeitar.

Por mim, não levem luto
Em prova de sentimento.
Ninguém precisa ver fora
O que se sente por dentro.

Não chorem por mim
Tenham compreensão.
Sofrem os que fican
Não os que vão.

Não me façam velório
Onde só existe falatório.
Onde sobre tudo se argumenta
E o morto não se respeita.

Quero que lembrem de mim
Sempre a trabalhar.
Não parada, imóvel,
E todos a me olhar.

Não quero mausoléu
Para todos admirar.
Nem uma simples campa,
Onde alguém venha a chorar.

Não quero enterro
Que é a ida sem volta.
Quero que lembrem de mim
Viva, não morta.

Não me enterrem, por favor.
Se tiverem por mim
Um pouquinho e amor.

Só devemos pôr na terra
O que dela possa brotar.
Alimentos para vida
E flores para enfeitar.
O que para terra não serve
Nós devemos queimar.

Minha última vontade
Deve ser respeitada.
Que eu seja cremada
E as cinzas, por alguém, sopradas.

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