sábado, 28 de julho de 2007

AMOR A VISTA

Aos meus filhos

Ele estava no jardim. Da janela do quarto, observava-o sem que me visse.
Fazia bolhas de sabão e seu sorriso acompanhava-as livres, leves, assustadoramente livres...Nada que pudesse detê-las. Ao primeiro obstáculo,dissolviam-se, desapareciam, mas outras substituíam-nas.Às vezes uma resistia mais, subia suavemente e não se sabia o que lhe aconteceria.
Eu o queria assim... Ele era minha melhor parte, embora só lhe ofertasse a pior. Queria-o livre, mas só lhe oferecera um mundo que pudesse observar através das grades.
Aquele sorriso mantinha a esperança. Como preservá-lo? Eu era a morte dolorida destilada gota a gota em seus olhos que descobriam o mundo. A cada " não" eu sabia estar sufocando um desejo. O necessário adestramento social que me competia como mãe. A mão que conduzia os passos e o dedo apontando: " O caminho é este". Eu sabia que não poderia abandoná-lo... Sabia que, anos mais tarde, eu só iria realmente poder observá-lo, ele escolheria o caminho... Notou minha presença.
- Mãe, que bicho é este?
- É tatuzinho, meu filho. Se você encostar um dedo nele, vira uma bolinha.
- Posso pegar?
- Pode.
- Virou bolinha, mãe! E agora?
- Ele só está se protegendo. Quando puser no chão, ele desenrola e volta a caminhar.
- Posso pôr uns no vidro para mim?
- Se puser um pouco de terra para eles e deixar sem tampa, pode. Vou pegar um vidro para você. Pronto, ponha um pouco de terra e coloque alguns, não muitos.
- Por quê?
- Se você lotar o vidro, podem morrer. Pouco espaço para viver.
- o que será que eles comem?
- Não tenho certeza, mas devem se alimentar da própria terra. Depois você pergunta a seu pai. Cuide deles, viu? Não os deixe morrer. Se perceber que algum morreu, devolva-os ao jardim.
- Tá bom, mãe. Você tem história de tatuzinho em algum livro pra contar?
-Não tenho, mas a gente inventa uma.
-Os tatuzinhos podem dormir no meu quarto?
- Melhor não, deixe-os sobre a mesa do quintal.
- Vamos?
- Aonde você quer ir, filho?
-Inventar uma história de tatuzinho.
Pegou miha mão.
Meus olhos pediam-lhe: " Leva-me, ensine-me a vida."

Um comentário:

Renata disse...

Simplesmente Amei!!!!!!!!!!!!!!!
de sua sobrinha Renata